quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Criado o coletivo da memória, justiça e verdade em Nova Friburgo

Em reuniões realizadas na sede do Sindicato dos Trabalhadores do Vestuário de Nova Friburgo, representantes dos movimentos sociais da cidade criaram o Coletivo da Memória, Verdade e Justiça, que desenvolverá ações no sentido da formalização, através de lei, da Comissão Municipal da Verdade, assim como da promoção de atividades de esclarecimento e conscientização sobre o período ditatorial e suas consequências no município de Nova Friburgo e na Região.

Na primeira reunião, em 03 de dezembro, estiveram presentes os advogados Aderson Bussinger e José Ricardo Assis, membros da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, a representante da Comissão Estadual da Verdade, Natália Cindra, o Vererador Cláudio Damião (PT), além de diretores dos sindicatos dos Bancários, Professores (Sinpro e SEPE), Vestuários, ativistas de movimentos sociais e comunitários, militantes dos partidos PCB, PSOL e PSTU e de organizações que lutaram contra a ditadura em nosso país, como Sérgio El-Jaick e Ivaldeck Barreto, os quais contaram um pouco das suas experiências no enfrentamento à repressão. Na segunda reunião, realizada em 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos, outras pessoas compareceram. Foi criado o Coletivo da Memória, Verdade e Justiça, como um embrião da futura Comissão Municipal da Verdade, que depende da aprovação de lei municipal para ser oficializada.

Para além da discussão em torno do projeto de lei que deverá instituir a Comissão Municipal da Verdade, o Coletivo pretende atuar no sentido de promover o levantamento de informações sobre o período da ditadura empresarial-militar (1964 a 1985) em Nova Friburgo, onde existiu intensa articulação do setor militar (representado centralmente pelo Sanatório Naval) com as lideranças empresariais (à frente o Sr. Heródoto Bento de Mello e seu grupo político) para reprimir o movimento operário e sindical que se fortalecia na cidade. As articulações golpistas foram responsáveis, já no ano de 1964, pela renúncia forçada do então prefeito Vanor Tassara Moreira e do Vereador comunista Francisco de Assis Bravo. De igual forma, o aparato repressivo de Estado perseguiu, prendeu, torturou e matou vários militantes políticos de esquerda e de postura democrática e liberal que viveram na cidade ou que para cá vieram morar, dentre os quais é possível destacar Jorge El-Jaick, Humberto El-Jaick, José Costa, Arquimedes de Brito, Argemiro de Oliveira, Celcyo Folly, Mario Prata, Aristélio Andrade, para citar apenas os nomes que foram lembrados nas reuniões já realizadas pelo Coletivo.

Com a Comissão Municipal da Verdade oficializada, será possível organizar audiências públicas para gravação de depoimentos e testemunhos daqueles que resistiram contra a ditadura e foram por ela perseguidos. Também são objetivos do Coletivo promover caravanas de visitas às escolas e aos sindicatos, para esclarecer estudantes e trabalhadores a respeito da história do período. Este trabalho de conscientização, além de representar o necessário resgate da memória sobre uma “página infeliz da nossa história”, como canta Chico Buarque em “Vai Passar”, tem também o papel de denunciar a permanência, nos dias atuais, dos aparelhos e práticas de repressão e tortura, tão comuns na ação cotidiana das polícias e forças armadas brasileiras.

Outra luta que será encampada pelo Coletivo da Memória, Justiça e Verdade de Nova Friburgo é pela revisão dos nomes de ruas e avenidas que até hoje homenageiam agentes da ditadura, como Costa e Silva, que nenhuma ligação têm com a história viva da cidade, para colocar em seu lugar os nomes dos verdadeiros heróis do povo trabalhador.

Na próxima reunião do Coletivo, será estabelecido o calendário de visitas aos sindicatos de trabalhadores e associações de moradores para divulgar a ideia da Comissão Municipal da Verdade e para convidar os ativistas sindicais e de movimentos sociais para que participem do Seminário que será organizado sobre o tema, em fevereiro do 2014. No ano em que o golpe militar completará 50 anos, serão desenvolvidas várias atividades de conscientização acerca do período da ditadura no Brasil. Nova Friburgo não ficará de fora desse necessário trabalho de resgate histórico de um tempo obscuro, “passagem desbotada na memória das nossas novas gerações”.


PARTICIPE DA PRÓXIMA REUNIÃO DO COLETIVO: Dia 17 de dezembro (terça) às 18:00 na sede do Sindicato dos Vestuários (Av. Alberto Braune, 4/1º andar – Centro de Nova Friburgo/RJ)